quarta-feira, 29 de junho de 2011

Evasão Escolar

Walace Faria*
    
O termo evasão escolar designa especificamente o abandono do colégio  durante o ano letivo por parte do aluno. O grau de evasão no Brasil ainda é muito elevado se comparado a países ditos como desenvolvidos.
        No que se refere à lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (1997:2), é bastante clara:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
    Ou seja, é dever do Estado e da família dar uma direção sócia - educacional a criança e ao jovem. Mas essa não é a realidade há alguns anos, a educação não é disponibilizada a todos, e por vezes não é dado ao cidadão condições para que se possa permanecer dentro da instituição básica de ensino.
    A evasão da escola não é tema atual, infelizmente é uma abordagem antiga em nossa sociedade.
Em décadas atrás FREITAG (1980:61) já fazia estudos sobre o tema e destacou que:
"Dos 1000 alunos iniciais de 1960, somente 56 conseguiram alcançar o primeiro ano universitário em 1973. Isso significa taxas de evasão 44% no ano primário, 22% no segundo, 17% no terceiro. A elas se associam taxas de reprovação que entre 1967 e 1971 oscilavam em torno de 63,5%”.

     Em pesquisa recente o jornalista
LAHOZ, André Casa (in Revista Exame, 2000) afirma que de cada 100 crianças que iniciaram os estudos em 1997, só 66 chegarão à oitava série.     Números mais recentes dispostos no site do INEP (
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira), mostram  dados alarmantes sobre a situação do abandono da escola; em 2007, 4,8% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental (1ª a 8ª séries, ou atualmente chamado de 1º ao 9º ano) deixaram de freqüentar o ambiente escolar. Embora o índice pareça ínfimo, corresponde a quase 1,5 milhão de alunos. No mesmo ano, 13,2% dos alunos que cursavam o Ensino Médio também saíram do colégio, o que corresponde a pouco mais de1 milhão de estudantes. Comprovadamente, muitos desses alunos retornarão para estudar, mas com defasagem, ou seja, a idade não corresponde à série ideal.     Alguns estudos recentes sobre o tema discutido mostram que há várias medidas adotadas pelas autoridades para sanar ou diminuir o problema, dentre eles se encontram a implantação da Escola Ciclada, a criação do programa bolsa-escola, a implantação do Plano Desenvolvimento Escolar (PDE), dentre outros, mas que não têm sido suficientes para garantir a permanência do aluno  e a sua permanência  na escola.
    Esses mesmos estudiosos afirmam que o fracasso escolar no Brasil está baseado em dois fatores, fatores externos à escola e fatores internos.
Dentre os fatores externos relacionados à questão do fracasso escolar são apontadas as desigualdades sociais, o trabalho, a criança e a família. E dentre os fatores internos são apontados a própria instituição escolar, a linguagem e o docente
"o fator mais importante para compreender os determinantes do rendimento escolar é a família do aluno, sendo que, quanto mais elevado o nível da escolaridade da mãe, mais tempo a criança permanece na escola e maior é o seu rendimento”, foi o que conclui o trabalho de BRANDÃO et al. (1983) quando  realizou pesquisa sobre o assunto desenvolvida pelo Programa de Estudos Conjuntos de Integração Econômica da América Latina (ECIEL), baseada nos estudos de 5 países da America do Sul. Isso significa que para a autora o fracasso escolar está intimamente ligado a família.
     As desigualdades sociais também se caracterizam como fator externo para a evasão escolar segundo ARROYO (1991:21), quando o mesmo alega que as "diferenças de classe” "marcam" o fracasso escolar nas camadas populares, porque:
"É essa escola das classes trabalhadoras que vem fracassando em todo lugar. Não são as diferenças de clima ou de região que marcam as grandes diferenças entre escola possível ou impossível, mas as diferenças de classe. As políticas oficiais tentam ocultar esse caráter de classe no fracasso escolar, apresentando os problemas e as soluções com políticas regionais e locais”.
     O estudo desenvolvido por MEKSENAS (1998:98) aborda a evasão da escola no turno noturno, evidencia que  a desistência  escolar destes alunos se dá em virtude doe  mesmos serem "obrigados a trabalhar para sustento próprio e da família, exaustos da maratona diária e desmotivados pela baixa qualidade do ensino, muitos adolescentes desistem dos estudos sem completar o curso secundário".
     Alguns autores como
BOURDIEU, CUNHA, FUKUI, o fracasso do sistema educacional se encontra internamente, ou seja, a escola é responsável pelo sucesso ou fracasso dos estudantes, tomando como base explicações que variam desde o seu caráter reprodutor até o papel e a prática pedagógica do docente.
    "O fenômeno da evasão e repetência longe está de ser fruto de características individuais dos alunos e suas famílias. Ao contrário, refletem a forma como a escola recebe e exerce ação sobre os membros destes diferentes segmentos da sociedade",
afirma FUKUI (in BRANDÃO et al, 1983) ressaltando a responsabilidade da escola no fracasso do sistema educacional, indo na contramão dos que acham que a família é a base para o mesmo fracasso.
    Segundo CUNHA (1997:29), a responsabilização da criança pelo seu fracasso na escola tem como base o pensamento educacional da doutrina liberal a qual fornece argumentos que legitimam e sancionam essa sociedade de classe, e também tenta fazer com que as pessoas acreditem que o único responsável “pelo sucesso ou fracasso social de cada um é o próprio indivíduo e não a organização social”.
    BOURDIEU (in FREITAG,1980) afirma que a escola serve como um instrumento de dominação, reprodução e manutenção dos interesses da classe burguesa, e que essa mesma escola não leva em consideração o capital cultural de cada aluno, e que “os professores partem da hipótese de que existe, entre o ensinante e o ensinado, uma comunidade lingüística e de cultura, uma cumplicidade prévia nos valores, o que só ocorre quando o sistema escolar está lidando com seus próprios herdeiros”.
   O professor é responsabilizado como autor do fracasso escolar (evasão) por alguns autores. Para ROSENTHAL e JACOBSON (in GOMES, 1994:114) a responsabilidade do professor pelo fracasso escolar do aluno se deve às expectativas negativas que este tem em relação ao corpo discente considerado  como "deficiente", o qual muitas vezes, apresenta comportamentos de acordo com o que o professor espera dele. Estes teóricos mostraram através de seus trabalhos, que as expectativas, em geral, podem influenciar os fatos da vida cotidiana, e que geralmente, as pessoas parecem ter a tendência a se comportar de acordo com o que se espera delas. Assim, a expectativa que uma pessoa tem sobre o comportamento de outra, acaba por se converter em realidade. A este fenômeno, os autores denominaram como "profecia auto-realizadora" ou "Pigmaleão Sala de Aula".
Segundo GATTI (in BRANDÃO et al, 1983:47), "o fenômeno da profecia auto-realizadora é mais provável de ocorrer numa escola que abrange crianças de níveis econômicos díspares, o que enseja comparações e preferência dos professores favoráveis às crianças que lhes são mais próximas em termos culturais".










Referência Bibliográfica

FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 4ª ed., São Paulo: Moraes, 1980.
LAHOZ, André Casa. Na Nova Economia a educação é um insumo cada vez mais importante. Com investimentos, políticas consistentes e continuidade, o Brasil melhora suas chances de prosperar. In: Revista Exame. Ano 34, nº 75, abril 2000, p. 173-180.
BRANDÃO, Zaia et alii. O estado da arte da pesquisa sobre evasão e repetência no ensino de 1º grau no Brasil. In Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 64, nº 147, maio/agosto 1983, p. 38-69.
MEKSENAS, Paulo. Sociologia da Educação: Uma introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 2ª ed., São Paulo: Cortez, 1992.




Walace Faria é Graduando  do 7º período em História pela Faculdade de Formação de Professores. FFP/UERJ

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